Arquitetura da memória

O tempo todo tudo muda.

Uma casinha é demolida para dar lugar ao prédio modernoso.

Uma árvore é cortada com a desculpa de que o vento pode fazer ela cair.

Uma calçada de ladrilho antigo dá lugar ao revestimento novinho e brilhante.

Um pouco de saudosismo faz a gente se apegar às coisas do passado.

Mas há também beleza e história pra contar ao preservar essas coisas do passado.

Até a minha pequena cidade mineira já não é mais a mesma da minha memória.

Na lembrança, ainda tenho vivinha a imagem do Cine Presidente de arquitetura art déco, todo em tons pastéis. Tenho também a memória dos filmes que assisti ali. Das sessões animadas dos filmes dos Trapalhões, na infância, e de “Garota, interrompida”, que me marcou a adolescência.

Lembro também do bairro residencial apenas com casas, hoje tomado por prédios.

Da loja da esquina da praça, onde a gente ganhava uma bola colorida do meu vô.

Aqui onde moro também já não é o mesmo lugar.

Havia meu predinho preferido no centro da cidade. Foi demolido num domingo quieto, sem alarde. Já era.

O colégio onde passei a vida. Prédio brutalista, com um teatro interessantíssimo. Já deixou de ser colégio. Com o coração dolorido constato que, por fim, virou uma igreja.

Há mudanças boas, mas nessas só vejo ganância e equívoco.

Me resta lembrar.

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