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  • As letras impressas

    As letras impressas

    Outro dia escrevi aqui sobre a minha série de colagens Indecifráveis, que criei com as práticas experimentais no grupo Impossibilidade de esgotamento, idealizado pela artista visual Kamilla Nunes.

    A boa notícia é que nesse 24 de abril, quinta-feira, será o lançamento da publicação “e: persuasões íntimas: e falar entre si: e uma liga de sólido e de frágil: e”, que é resultado do trabalho que desenvolvemos no último semestre de 2024.

    “Estão contidas neste livro obras criadas a partir de diversas materialidades, como gravuras, carimbos, aquarelas, cianotipia, colagem, escrita, fotografia, entre outros, para tratar da relação entre sujeito-mundo a partir de uma referência primordial, ‘A teoria da bolsa de ficção’ da escritora Ursula K. Le Guin”, explica a editora e coordenadora do grupo.

    Além das páginas com três colagens que desenvolvi, o livro contém obras de outros 38 artistas, impressas nas 192 páginas.

    O lançamento será a partir das 19h, na Fundação Cultural BADESC, em Florianópolis. A entrada é gratuita.

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    e: persuasões íntimas: e falar entre si: e uma liga de sólido e de frágil: e
    Edição, curadoria e projeto editorial: Kamilla Nunes
    Cais Editora
    192 páginas
    Exemplares à venda no lançamento (tiragem limitada)

    Lançamento
    Quinta-feira, 24 de abril, a partir das 19h
    Fundação Cultural Badesc
    Rua Visconde de Ouro Preto, 216, Centro, Florianópolis – SC
    Entrada gratuita
    Mais informações

    Fotos Carol Grilo e Nestor Jr.


  • Leitor ilustre

    Leitor ilustre

    Comecei a fuçar a internet no último ano do colégio. Era 1995 e a “rede mundial de computadores”, como brincamos nos dias de hoje, era tudo mato.

    Comecei meu blog no início dos 2000 e com ele conheci muita gente legal. Várias delas são grande amigos que fazem parte da minha vida até hoje.

    Na época, tinha leitores fiéis que participavam do assunto com seus comentários.

    Tinha tretas também porque a internet reinventou a treta. Mal sabíamos que isso ia piorar muito no futuro.

    Mas escrevo esse post para contar que eu tinha um leitor ilustre e ele contribuía com comentários generosos. Eu era uma menina de vinte e poucos anos escrevendo bobagens diárias e ele um jornalista conhecido aqui na ilha.

    Mais tarde, pude conhecer pessoalmente o jornalista Carlos Damião, por quem eu nutri admiração e respeito.

    Encontrávamos algumas vezes em eventos na cidade.

    Da última vez que o vi, ele estava com problema de visão e andava devagar pelo centro da cidade. Mesmo assim me reconheceu e me chamou. Ele gostava de circular pelas ruas do centro e sempre estava atento aos acontecimentos da cidade e escrevia sobre isso.

    Naquele dia entramos juntos num comitê atrás de adesivos, pois era época de campanha presidencial.

    Ele contou dos novos projetos. Estava aprendendo como gravar e editar seu próprio podcast, que seria lançado logo mais.

    Ainda não sabíamos que esses projetos nunca sairiam do papel. Pouco tempo depois soube de sua morte, sozinho, em casa.

    Esse é um post de agradecimento e em memória do jornalista Carlos Damião.


  • A mala

    A mala

    Sonhei uma coisa muito estranha na última noite.

    Voltaria pra casa, depois de uma viagem à Minas com a minha família.

    Me avisaram em cima da hora o dia do retorno e eu teria que arrumar a mala correndo, na noite da véspera.

    Já chateada por ter sido avisada em cima da hora, fui enfim separar tudo. Alguns amigos me acompanhavam.

    Só daí me dei conta da quantidade de coisas que levei. Entre muitas roupas inúteis, havia um par de luvas de quando eu era criança. Nem cabiam nas minhas mãos adultas de hoje. Os amigos riram.

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    Enquanto eu corria na esteira nesta manhã, pensava sobre meu sonho.

    Pensava sobre a quantidade de coisas inúteis que levo pra lá e pra cá nessa vida. Coisas que já não me servem mais. Coisas que não me fazem mais sentido algum.

    Minha mala pode ser mais leve.

    Talvez não precise ser uma mala, mas uma mochila.

    Ou até mesmo uma bolsa a tiracolo.


  • Território

    Território

    Socorro Acioli escreveu em seu livro Oração para Desaparecer: “Estar vivo é ser palavra na boca de alguém. Não lembrar delas me condenou ao abismo, não saber os nomes das pessoas, do meu lugar, a narrativa da minha vida, tudo o que somos é história e história se conta com palavras. Por isso bastou um bilhete. Lembrei-me da missa: ‘Mas dizei uma palavra e serei salvo’. Fui salva por apenas duas, o nome da cidade de onde vim e o meu nome.”

    Sou a Carol Grilo. Não quero falar de onde vim, mas do bairro onde moro. Não sou nativa do Córrego Grande, nem de Florianópolis. Vivo no bairro desde a minha pré-adolescência, em 1990.

    Aqui, me tornei adulta e morei em três lares diferentes. Até então.

    Nesses 35 anos, acompanhei as transformações deste pedaço da cidade. Vi comércios abrirem e fecharem, assisti à demolição de casas para darem lugar a edifícios, vi uma fazenda inteira dar lugar a condomínios e escutei a motoserra ceifando garapuvus para ser construído um loteamento no alto do morro.

    No meu imaginário, hoje o bairro se divide em dois.

    Um bairro recente, com prédios mais altos, com uma vizinhança completamente alheia à história local. Um lugar com petshops e markets, com padarias caras e muitas salas comerciais para alugar.

    O bairro que me interessa é o segundo. O Córrego Grande que ainda me faz lembrar do tempo em que me mudei pra cá. Com as casas que resistem, com as árvores e jardins que permanecem enraizados, com a vizinhança que se conhece, que se encontra na feira, no posto de saúde e nos centros comunitários.

    Nesta semana, estava no sertão do Córrego Grande conversando com outras moradoras do bairro e muitas memórias voltaram vivas à minha mente através do que cada uma relembrou.

    Voltei pensativa sobre o que é território e o que ele significa pra gente.

    Não pude deixar de pensar nas pessoas que vivem na Palestina, retratadas no documentário Sem chão (No other land ), dirigido por Yuval Abraham, Basel Adra e Hamdan Ballal.

    Me imaginei perdendo as casas onde vivemos, as escolas onde estudamos, sem chance de as salvarmos.

    Onde o que resta é reconstruirmos tudo com as próprias mãos.

    Essa reconstrução só acontece porque há uma comunidade unida pelos mesmos valores e objetivos.

    Em busca de uma comunidade, é que decidi participar de um grupo local e criar novos laços nesse território próximo.

    Voltei a circular pelas ruelas do Jardim Guarani, a escutar as crianças na hora do recreio na creche municipal ou a cruzar sempre com o mesmo cachorro vizinho.

    E sigo pensando sobre território e identidade.

    E o que resta de nós sem os dois.


  • O silêncio

    O silêncio

    Em alguns de meus trabalhos abordo o tema silêncio.

    Ora sou silenciada como mulher.

    Ora procuro o meu próprio silêncio.

    E foi desse silêncio, o que mais me interessa, que fui atrás no carnaval.

    Refugiei-me por alguns dias na casa de amigos nas montanhas.

    Foi lá que pisei na grama, nadei no açude, fiz as refeições mais deliciosas numa mesa cercada de araucárias. Foi lá que vi o tempo passar devagar, observei a brisa balançando a cortina na janela e observei a lua nova no céu já quase de noite. Foi lá também que convivi com três éguas e dois pôneis queridos: a Jasmine e o pequeno Pixel.

    Do amanhecer ao anoitecer, lá fora era silêncio.

    Dentro de casa, conversas boas e tempo para colocar o pensamento em ordem.

    Como é bom se ausentar da rotina.

    Como é bom se ausentar.

    Silêncio.


  • Eme tê vê

    Eme tê vê

    Sempre brinco que trocaria facilmente a invenção da internet pelos anos de Mtv.

    A emissora faz parte da minha juventude e de tudo que me formou musicalmente.

    Lembro das férias escolares em que passava horas acordada madrugada adentro para conseguir assistir aos melhores videoclipes.

    Durante as aulas, aproveitava o intervalo entre o almoço e a volta para o colégio, para conseguir ver CEP MTV com o Thunderbird de apresentador.

    Conhecia bandas através de Fábio Massari nos programas Lado B e Manifesto.

    Gravava clipes em fitas VHS, o que resultou numa grande coleção, descartada muitos anos depois.

    Naquela época eu era adolescente, e todo mundo queria ser VJ ou ter ganhado a promoção para viajar até Seattle com o Gastão Moreira.

    Nos idos de 1993, o assunto só era esse: bandas, o álbum que acabou de sair, o filme que estreou no cinema. Ficávamos informados através da emissora.

    Nos anos 2000, ao meu ver, a MTV degringolou de vez. Os programas de auditórios e reality shows foram a maneira de aumentar a audiência, mas me fizeram perder o interesse pelo canal.

    Anos mais tarde, a falência da editora Abril, dona da MTV Brasil, decretou enfim a sua morte.

    Soube que o acervo ficou abandonado por anos no saudoso prédio da avenida Alfonso Bovero.

    Até que Gastão Moreira, em seu canal Kazagastão, descobriu que o acervo está guardado e muito bem cuidado.

    Aliás, vale muito a pena assistir à série de vídeos que o Gastão tem feito, principalmente para quem viveu aquela época.

    Esses vídeos são a única comprovação que a minha adolescência, sem a internet, foi muito legal 🙂

    Para sempre, Mtv.


  • Indecifráveis

    Indecifráveis

    Trabalho com colagem há algum tempo. Se for contar a época em que recortava, colava e montava universos criados em capas de cadernos e páginas de agenda, faz mais tempo ainda.

    Comecei a levar essa técnica para meu processo criativo quando fiz algumas oficinas com a colagista Pati Peccin, também aqui de Florianópolis.

    Meu último trabalho com colagem partiu de um exercício em que brinquei com a ligação entre letras (a fonte escolhida foi Helvetica) e dei formas inusitadas e ilegíveis a elas.

    Essas “palavras-figuras” foram coladas em folhas caídas de árvores em parques, praças e canteiros e redistribuídas nos mesmo locais, a fim de que alguém as achasse por aí.

    Continuei essa investigação e criei uma pequena publicação manual e caseira, utilizando o formato de encadernação concertina (uma espécie de sanfona ao abrir), onde, mais uma vez, essas “palavras” tornaram-se a ilustração do livreto, juntamente com outras imagens.

    A partir daí, criei a série de colagens Indecifráveis. São imagens fortes buscadas no fotojornalismo, acompanhadas de padrões criados com a junção dessas letras. Essa série é composta de três colagens principais.

    A novidade é que elas farão parte de uma publicação coletiva, resultado dos trabalhos desenvolvidos com o grupo Impossibilidade do esgotamento. Será lançado em abril deste ano.

    Aguarde.


  • Bordando palavras

    Bordando palavras

    Certa vez, fui convidada para sair num livro chinês falando sobre meu trabalho na FofysFactory. Foi uma emoção ter participado da edição feita pela escritora Affa, de tão longe. Uma amiga achou o livro sem querer ao entrar numa livraria na China e fotografou pra mim, antes mesmo de eu ter recebido a minha edição.

    Em outro momento, fui convidada a ensinar um produto feito pela FofysFactory num livro americano da escritora Kristen Rask de “faça você mesmo” (do it yourself). Nunca recebi a edição. Passaram anos até o dia que levei um susto ao avistar, sem querer, o livro na prateleira da extinta da Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo. E a melhor notícia: meu produto estava na capa!

    Em plena pandemia, surgiu o convite para ilustrar com bordados o livro escrito pela mineira Paula Gotelip, que se chama “Dançando com as palavras”. É um livro infantil onde ela relata sua própria vivência tendo dislexia.

    Com o convite, veio também a amizade com a equipe criativa. Filipe Lampejo, designer de mão cheia lá de Belo Horizonte, cuidou da cara do livro e colaborou com a ilustração também. Nas mãos dele é que meus bordados ganharam vida e volume nas páginas impressas.

    A edição ficou por conta da Cia. Mafagafos, representada pela Aline Maciel, aqui de Florianópolis.

    Foram muitas conversas e trocas de ideias remotas (parte do grupo em Minas e outra parte aqui em Florianópolis) até que o livro finalmente nasceu, com o empurrão do Edital da Fundação Franklin Cascaes.

    Todo o design foi pensado na acessibilidade das pessoas com dislexia, para que a leitura seja confortável, clara e divertida. A história encoraja as crianças disléxicas a dançarem com as palavras!

    Vamos dançar? Assista ao vídeo de todo o processo aqui.


  • Começar a bordar

    Começar a bordar

    Dou aulas de bordado contemporâneo desde 2016.

    Sempre falo o quanto é importante separar um tempo na rotina para se dedicar à criação e para aprender algo novo. Enquanto bordamos é também um momento de reflexão e de colocar os pensamentos em ordem, além de ficarmos longe das telas. Esse é um espaço reservado no dia para a troca de ideias com os outros alunos.

    Comecei minha carreira de professora com duas oficinas de bordado contemporâneo no extinto Coffee & Shop 18, no Itacorubi.

    Depois, passei por um longo período e formei dezenas de turmas no espaço da Faferia, no centro, administrado pelo Fifo Lima.

    De lá pra cá, fui convidada para dar aulas em diversos espaços: Eventos corporativos no Costão do Santinho e Il Campanario, Colégio de Aplicação da UFSC, Fundação Hassis, IFSC de São José, entre outros.

    Mas foi a partir de 2019 que me dediquei às turmas contínuas. Alunos que nada bordavam começaram a criar utilizando as diversas técnicas que ensino nessas aulas. Tenho alunas que estão comigo há 8 anos e o progresso delas é visível e me deixa muito feliz.

    No último ano, levei minhas aulas para o Ateliê Alvéolo, que fica no bairro Pantanal, aqui em Florianópolis. O Ateliê acabou de completar 10 anos e é administrado pela artista aquarelista Zulma Borges.

    A novidade é que a partir de março começo a terceira turma lá. Será no período da manhã, atendendo aos pedidos.

    Acontecerá todas as sextas, das 9h às 11h e a mensalidade é R$ 220.

    Ainda temos vagas!

    Temos vagas também na turma vespertina das quintas, das 14h às 16h.

    Se você interessou e quer fazer parte, me escreva no contato@fofysfactory.com.br.

    Lembrando que oriento cada aluno individualmente, ou seja, você pode nunca ter bordado ou já saber bordar. É um espaço para desenvolver ainda mais sua habilidade com agulha e linha e ter novas referências na utilização do bordado na arte contemporânea. Venha!

    Aulas de Bordado Contemporâneo com Carol Grilo

    Turma Nova

    Todas as sextas-feiras, das 9h às 11h.

    Mensalidade R$ 220

    No Ateliê Alvéolo, Rua Maria Eduarda, 80 – Bairro do Pantanal, Florianópolis.


  • Noite de abertura

    Noite de abertura

    Mal o relógio marcou 19h, cheguei no Museu Victor Meirelles.

    Ao entrar no espaço expositivo, já avistei pessoas conhecidas.

    Estava curiosa para saber como ficou a montagem da exposição Arte: substantivo feminino. Dias antes, fui avisada pela amiga Juliana de que o museu havia aberto as inscrições para essa exposição. É a primeira vez que a instituição faz uma chamada pública, só para artistas mulheres de todo o Brasil, em lembrança ao dia internacional da mulher (8 de março).

    Não hesitei em enviar minha obra Etéreo Onírico, que produzi em 2024.

    Poucos dias depois de submetê-la, recebi a boa notícia de que eu estava entre as 48 artistas selecionadas.

    A noite de abertura foi agitada, cheia de visitantes amigos, comentários generosos sobre a minha obra e muita conversa.

    Foi muito bom ver todos os trabalhos juntos, conhecer algumas artistas e rever outras. A escolha da curadoria em agrupar obras afins deu consistência ao percurso de visitação.

    As participantes usam diversas técnicas, como fotografia, audiovisual, colagem, pintura, gravura e escultura.

    A curadoria da exposição é de Simone Rolim de Moura, Ticiane Marassi, Mara Vasconcelos e Rita Coitinho.

    A montagem e iluminação foi feita por Flávio Brunetto.

    As artistas

    • Ana Viegas
    • Annete Owatari
    • Bellatrix Serra
    • Carol Grilo
    • Carol Westt
    • Carolina Castro
    • Clara Rovaris
    • Claudete Luginieski
    • Claudia Bavagnoli
    • Dami Vargas
    • Daniela Sirqueira
    • Denise Prehn
    • Francinete Alberton
    • Gabriela Stragliotto
    • Ilca Barcellos
    • Janete Machado
    • Joyce Mussi
    • Júlia Steffen
    • Juliana Gomes
    • Julie Silva
    • Laïs Krücken Pereira
    • Laura Freitas
    • Lenora Rosenfield
    • Liah G
    • Lorena Galeri
    • Luanda de Oliveira
    • Maria Luiza Amorim
    • Mariana Zanelli
    • Marina Ayra
    • Marisa Martins Carvalho
    • Monique Marin
    • Nádia de Marco
    • Nina Simão
    • Paloma Gomide
    • Priscila Boldrini
    • Ralyanara Freire
    • Samira Pavesi
    • Shila Joaquim
    • Silvia Ruiz
    • Sofia Cavalheiro da Silva
    • Suely Carrião
    • Talita Warnava
    • Tânia Ribeiro
    • Teresa Cristina Silva Pereira
    • Thays Leonel
    • VeraLu
    • Vitória Haab Portela
    • Viviane Rocha

    Visite

    Exposição Arte: substantivo feminino

    Visitação: até 18 de março de 2025, de terça a sexta-feira, das 10h às 18h, e sábado das 10h às 15h (exceto feriados).

    Museu Victor Meirelles
    Rua Victor Meirelles, 59, Centro · Florianópolis, SC. (Entrada pela porta lateral na Rua Saldanha Marinho).
    Informações: mvm@museus.gov.br