Ciranda

Às vezes a gente pensa que a história que interessa é a de outra vida. Uma vida inventada.
Engana-se quem pensa que se inventa sem colocar um pouquinho do que se é.
Naquela noite, estavam todas sentadas no chão sobre algumas almofadas espalhadas ou diretamente sobre o tapete. Poucas luminárias deixavam o espaço acolhedor, à meia-luz.
Uma roda de mulheres pode ser assustadora a alguns olhos. Menos a elas próprias.
Como em outros tempos, sentadas em círculo, pareciam estar ao redor de uma fogueira imaginária. Ali criavam juntas uma nova personagem. Cada uma contribuindo com o que lhe alcançava: uma origem, um ofício, uma vontade. Essa personagem é feliz? Vive em liberdade? Gosta de dançar?
Aos poucos, ela foi nascendo e ficando em pé. Ganhando vida própria.

Aos poucos, também, algumas dessas mulheres foram se reconhecendo e se apegando ao novo ser que surgia.

Conforme a vida nascia para essa personagem, a amizade e vínculo nascia entre essas mulheres.

No final da noite, constatou-se: faltou um nome.

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“Não basta dizer que é para isso que serve a ficção: para pôr as nossas coisas inconfessáveis nas almas de personagens inventados”.

Miguel Esteves Cardoso

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