Tive alguns traumas na vida que foram culpa do meu pai.
Calma, já vou explicar melhor.
Meu pai, cinéfilo, de uma família de cinéfilos, acabou por se tornar um senhor que gosta de cinemão.
Mas eu gosto de cinema por causa dele. Gosto que foi reforçado pelo Ivan, meu companheiro de aventuras. Nosso primeiro encontro foi num cinema, mas outra hora eu conto.
Em 1981, eu tinha apenas três aninhos. Meu pai teve a incrível ideia de me levar ao cinema para ver ET – O extraterrestre. Na época, foi sensação. Lançaram miniatura do ET, bonequinho que acendia o peito e o dedo, as bicicletas do filme. Eu só colecionei pavor!
Até hoje morro de medo d’O ET. Veja bem, não é de qualquer ser vindo do espaço. É dele. Aquele nanico marrom que ficava branco ao adoecer. Que comia rastros de bala confetti. Que tinha dedo comprido. Que se escondia entre os bonecos de pelúcia. E era botânico.
Desconheço ter revisto o filme, mas os detalhes estão vívidos em minha mente. Assim como a trilha sonora, que meu pai insistia em ouvir.
Não me assusto com filme de terror. Aliás, não acho a menor graça. Enquanto Ivan fica com a mão suando frio, eu sempre estou indiferente ou achando problemas no roteiro. Mas é só me mostrar o ET ou contar histórias com disco voadores que já tremo nas bases.
Anos depois desse episódio, ainda criança, meu pai me fez assistir a “Contatos imediatos de terceiro grau”. A música do filme virou jingle da TV Manchete, para piorar minha qualidade de vida.
Eu cresci, aprendi a conviver com bonecos do ET na casa de amigos, com imagens dele ao virar a página de uma revista ou assistindo à tv. Mas sempre levando um sustinho.
Conclusão? Nem sempre a culpa é da mãe.