Sem celular

Numa manhã de terça meu celular travou.

Entre duas tentativas de reiniciar o sistema, ele declarou cansaço e levantou a bandeira branca. Jamais voltaria a trabalhar.

Nunca havia acontecido isso comigo, desde meu primeiro modelo: um amarelinho transparente da Gradiente, enorme para os padrões atuais, mas que me bastava funcionando como telefone e para receber mensagens SMS.

Ultimamente, tinha começado a negociar comigo mesma a diminuição do tempo de tela. Principalmente o uso de aplicativos como o Instagram. Uso profissionalmente, mas poderia diminuir ainda mais meu tempo de rolagem entre fotos desinteressantes e propagandas menos ainda.

De modo compulsório, tive que largar tudo de vez.

Sabia que minha comunicação continuaria através do whatsapp na web ou poderia continuar espiando e postando coisas nas redes sociais através do computador, até decidir pelo novo modelo de celular e esperar pela sua chegada. Tirando isso, o que mais me faria falta é a câmera, a música e o banco. Pensei até em carregar comigo a câmera reflex, como anos atrás, mas preferi não fotografar e aproveitar os acontecimentos da vida no momento presente.

A música no carro voltou a ser o rádio. Gosto da Antena 1 e da rádio Senado. Nas minhas aulas, o silêncio e as conversas embalam, mas se algum aluno quiser transmitir a música, que fique à vontade.

Pix e transferência, nem pensar! Não dá pra ler o QR code para concluir transações sem um celular. Ou seja, não consegui comprar outro aparelho via pix sem a ajuda de alguém, o que também me obrigou a voltar depois de anos a uma agência bancária para fazer uma simples transferência.

Comecei a concluir que nada estava perdido por não carregar um celular na bolsa. Minha vida simplesmente continuou: passei a ler ainda mais, fui ao cinema, continuei dando as minhas aulas, escrevi um projeto, fui a abertura de exposições, encontrei amigos, continuei trabalhando e criando, aproveitei minhas gatas, dormi melhor e tive sonhos interessantes.

Lembrei do Doutor Drázio Varella falando que o adicto em crack perde o vício em poucos dias, quando encarcerado. (onde o tráfico não permite essa droga). A verdade é que nosso vício em celular se esvai em poucas horas, basta não tê-lo na mão.

A vida real se sobrepõe com todas as suas forças e só nos resta viver!

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *