Para uma avenca partindo

Não tenho tempo de vida para reler tudo o que gostaria. Então, quando alguém cita um autor, um texto já lido, aproveito para tratar de relê-lo na hora.

Caio Fernando que tanto me acompanhou na juventude, precisa ser relido na idade adulta.

Ontem busquei o conto “Para uma avenca partindo”, através de um texto do Suplemento Pernambuco. Agora o Caio fala pra outra pessoa. Fala para a Carol de quarenta e poucos. Mas relembro a Carol de outrora, que me deixa feliz e triste ao mesmo tempo.

Releia seus preferidos!

“Por favor, não ria dessa maneira nem fique consultando o relógio o tempo todo, não é preciso, deixa eu te dizer antes que o ônibus parta que você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente, você não cresceria se eu a mantivesse presa num pequeno vaso, eu compreendi a tempo que você precisava de muito espaço…”

Este conto está no livro O ovo apunhalado, de Caio Fernando Abreu.

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