Categoria: Cinema

  • Entre os corredores

    Entre os corredores

    Nunca gostei de fazer compras, mas tenho que confessar que o universo dentro de um supermercado é único. As conversas entre os funcionários, a escolha dos produtos no carrinho alheio e a trilha sonora: essa é muito peculiar e nos transporta pelo túnel do tempo.

    Foi chegando ao caixa do supermercado Big que soube da morte do Michael Jackson, por exemplo.

    Coisas estranhas acontecem ali.

    Mas as impressões se modificam dependendo do horário que é frequentado. Quanto mais tarde, maior a melancolia entre os corredores.

    Quando falo de supermercados, lembro também de filmes que se passam nesse ambiente. E tenho uma queda pela tristeza que eles carregam em suas histórias.

    Automaticamente me lembro de The good girl (Por um sentido na vida). A vida medíocre da personagem principal, interpretada pela Jennifer Aniston, faz ela se apaixonar por um menino bem mais novo (interpretado pela Jake Gyllenhaal). Tudo é lindo quando se está apaixonada. Mas somente quando se está apaixonada.

    Em Morvern Callar, a personagem principal de mesmo nome, também trabalha em um supermercado. Mas tudo vai mudar na sua vida com a morte de seu namorado. Foi uma sensação a estreia desse filme. A trilha sonora foi uma das que mais escutei na vida!

    Mas todas essa conversa de supermercado, foi pra dizer o filme que assisti esses dias no Mubi: In the aisles. Um filme alemão simples, muito bonito e, claro, triste.

    Melancolia garantida!

  • Realidade inventada

    Realidade inventada

    Muitas vezes, meu lugar de refúgio é dentro da história de um filme já visto.

    Aqui, na realidade-real-da-vida, a alegria e a tristeza oscilam. Por isso, tem dias que quero a certeza da história do filme já visto.

    Para as tardes em que tudo deu errado, o calor do verão californiano do último dia de aula do ginásio, no filme Dazed & Confused. Perambular um dia inteiro com os amigos, prá lá e prá cá, sabendo que terá uma festinha à noite e a certeza de que irá tocar “Detroit Rock city“, do Kiss.

    Para uma segunda-feira cinzenta, talvez um novo amor que esteja de férias na sua cidade. Um amor francês com a cara do Melvil Poupaud, que te mostre o outro lado das coisas, como em Broken English.

    Para os dias de muita gente ao redor, talvez o melhor seja escapar para o silêncio e para a solidão de Lost in Translation. Pode aparecer alguém, quando você menos esperar, que te entenda perfeitamente.

    Já para os dias de solidão, poder escapar para a amizade emocionante entre o artista JR e a diretora Agnès Varda, em Visages, villages, onde a idade é o que menos importa.

    Tem ainda aqueles filmes que te fazem ter saudades de alguma coisa que você nem viveu. Ontem eu assisti ao Licorice Pizza e fiquei com saudades dos anos 70, mais precisamente de Los Angeles. Fiquei com saudades de quem eu já gostei e deixei de gostar. Fiquei com saudades da leveza e da falta de compromisso que só a juventude pode te proporcionar.

    Na melancolia de um final de domingo chuvoso e frio, foi pra dentro dessa história que eu escapei. Com a certeza de que vou voltar.

  • Columbus, Indiana.

    Columbus, Indiana.

    Eu sou arquiteta, amo arquitetura, respiro arquitetura. Apesar de não trabalhar mais com isso.

    Dias atrás, revi o filme Columbus, que é uma homenagem à arquitetura moderna da cidade de Columbus, no estado de Indiana, EUA. (Não confundir com Columbus, Ohio).

    Através da história do filme e da bela fotografia, a gente faz um tour pelas principais obras arquitetônicas da cidade, junto de seus personagens.

    Passamos pela Biblioteca de I. M. Pei, Miller House de Eero Saarinen, First Financial Bank de Deborah Berke, entre muitos outros lugares especiais.

    Deu vontade de viajar, deu vontade de morar em outro lugar, deu vontade de projetar.

    E é isso que mais gosto em uma obra: que me faça ter vontade de criar!

    Espero que goste desse passeio cinematográfico.

  • Prefixo “re-“

    Prefixo “re-“

    Uma obra nunca está fechada nela mesma.

    Ao rever um filme, colocar uma música que nunca mais se ouviu, tudo soa diferente.

    Talvez porque a gente tenha mudado também.

    Hoje venho aqui te indicar um filme e uma música de outra época que revendo e reouvindo ficaram ainda melhores.

    O filme é Laurence anyways do diretor Xavier Dolan, de quem gosto muito. Ele tinha apenas 20 anos quando o dirigiu e, na minha opinião, é sua obra-prima. Os atores Suzanne Clément e Melvil Poupaud estão ótimos interpretando o casal protagonista.

    A música é Chorus, do Erasure. Essa banda de synthpop foi muito presente na minha pré-adolescência. As músicas ainda me trazem muitas lembranças e têm me feito muito bem nesses tempos. Compartilho o vídeo aqui para te alegrar.

  • Mundo fantasma

    Mundo fantasma

    Daniel Clowes é um dos meus quadrinistas preferidos. Entre tipos esquisitos, pouco sociáveis e cheios de mania, a personagem que mais me identifiquei foi a Enid, do quadrinho Ghost World. Isso quando eu era mais nova, porém até hoje gosto da melancolia da história. Sou fã de carteirinha e tenho aqui em casa o quadrinho, o filme, a trilha e a boneca.

    Esses dias resolvi fazer o bordado da Enid do cinema, interpretado pela atriz Thora Birch e dirigido por Terry Zwigoff.

    Saiu assim:

    Nesse ano li o quadrinho Paciência, que já estava na minha lista de desejos faz tempo. Recomendo!

    Assim como todos os outros dele.

  • Vamos fugir!

    Vamos fugir!

    Esses dias descobri que começamos a assinar o Mubi aqui em casa em 2009! Nem existia o Mubi Brasil ainda e os filmes não tinham legendas em português. De lá prá cá, muita coisa mudou: já temos a versão brasileira, inclusive com vários filmes nacionais e com legendas em português.

    Há pouco tempo também, deixaram de ser uma plataforma que entra e sai um filme por dia. Agora podemos desfrutar de todo o acervo.

    Isto não é um publi (coitada de mim!), mas é uma divulgação de coração, já que acho a melhor plataforma de streaming atual.

    Esse ano tenho conseguido assistir a mais filmes que ano passado. E muitos deles são do Mubi.

    Através da indicação de uma amiga, descobri os filmes de Éric Rohmer que já falei aqui nesse blog.

    Também pude ver quase tudo da obra da Agnès Varda, que tanto amo.

    Mas estou escrevendo esse texto pra te indicar alguns dos últimos filmes vistos. Escolhi os leves, bonitos pra você embarcar, nem que seja por duas horinhas, num outro universo que não seja a realidade.

    São dois de um diretor e dois de outro:

    À L’abordage e L’île au trésor, de Guillaume Brac.

    Que delícia de filmes! Ambos no verão francês. Divertidíssimos e perspicazes ao relatar a sociedade francesa atual.

    Henry Gamble’s Birthday Party e Princess Cyd, de Stephen Conen.

    Falam de adolescência, descobertas e religião. Com verdade e delicadeza.

    ***

    Assista e me diga o que achou 🙂

  • Todo o meu amor por Varda

    Todo o meu amor por Varda

    Descobri tarde na minha vida a obra de Agnès Varda. Mas em pouco tempo fiquei completamente obcecada em assistir todos os filmes dela que estivessem ao meu alcance.

    De documentários a ficções, a sensibilidade em que tratava cada tema é única e isso me fisgou.

    Só Agnès sabia falar do amor entre uma adulta e uma criança (interpretada pelo próprio filho) em Kung Fu master, sem alarde e com doçura.

    Só Agnès sabia falar da amizade entre mulheres de forma real e bonita como em Uma Canta, outra não.

    Retratava com simplicidade e beleza os moradores da vizinhança ou qualquer outro assunto para seus documentários: Panteras Negras, seu marido (o também cineasta Jacques Demy) e até seu gato Zgougou.

    Era também feminista de forma criativa e inteligente.

    Já mais velha, construiu uma amizade com o artista francês JR que resultou no divertido e emocionante Visages, Villages. E ainda no finalzinho da vida fez sua retrospectiva definitiva, um luxo para poucos.

    Ela foi embora aos 90 anos, em 2019, viajando pelo céu de Paris agarrada a balões coloridos. É essa a imagem que vai ficar na minha mente para sempre.

    *Minha homenagem veio em forma de bordado, na FofysFactory Usei a técnica de foto transferida para tecido com intervenção bordada.

  • Outubro

    Outubro

    Tem que ter coragem para voltar às imagens daquele mês e relembrar a mistura de medo e esperança que sentíamos.

    O documentário Outubro, de Maria Ribeiro, retrata dia a dia a semana que antecedeu o resultado das urnas nas eleições de 2018.

    Ela compara o sentimento coletivo ao casamento terminado. Mostra a campanha dos adversários do atual presidente, a luta do “vira voto” dos mais comprometidos e o ódio da horda verde e amarela na avenida paulista.

    ‘Outubro’ me relembrou o que eu sentia antes das eleições e me fez entender o quanto suporto o momento atual. Se naquela época me sentia desesperada, me sinto agora paralisada.

    As participações de Maria Rita Kehl, Xico Sá, Manuela D’Ávila, nos ajudam a compreender um pouco mais desse buraco que o Brasil decidiu entrar.

    A história a gente já sabe como termina. Ou simplesmente começa? Mas o filme acaba bem, com Gilberto Gil cantando.

    No Canal Brasil.

    *Preste atenção na linda música que o Ravel Andrade (irmão do ator Júlio Andrade) canta no filme.

  • Sobre o luto

    Sobre o luto

    Quando nos deparamos com a situação inédita de pandemia em nossas vidas, entendemos também que a morte e o luto seriam questões presentes.

    Sentimos a perda de conhecidos, amados, famosos e da população de nosso país. Tudo ao mesmo tempo.

    Falar sobre o luto, senti-lo e dar as mãos para ele sempre foi necessário. Talvez, seja a hora de encará-lo de frente de uma vez por todas.

    Há dois dias, assisti ao filme Metalhead. A princípio, parece ser sobre uma menina que gosta de death metal, mas é bem mais que isso. É sobre como ela lidou com a perda do irmão na infância. Se passa na Islândia e mostra de forma muito sensível o papel da família e da comunidade ao seu redor em sua superação.

    Também li o último livreto ‘Notas sobre o luto‘ da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adiche. São relatos sinceros de como a autora lidou com o luto da perda do pai para Covid-19 no ano passado. O livro é profundamente verdadeiro, o que nos faz refletir sobre a perda de alguém que amamos e como isso é incontornável na vida.

    Não menos emocionante é essa conversa da psicanalista Maria Homem com o Paulo Werneck, no podcast da revista Quatro Cinco Um. Ela conta sobre a perda de seu companheiro, também psicanalista, Contardo Calligaris e como está passando por isso.

  • Escapando da realidade

    Escapando da realidade

    Adoro cinema, filmes bons, diretores geniais. Mas vou te contar que também adoro filminhos menores e independentes, mas sensíveis. Fico feliz quando consigo achá-los, em meio a cartazes horrorosos refeitos pelas plataformas de streaming.

    Para passar por essa avalanche de notícias ruins, compartilho com você uma pequena lista para “viver uma outra vida por uma hora e meia”:

    • Revi ‘Liberal Arts‘ e a experiência foi ainda melhor. O filme é atuado, dirigido e roteirizado por Josh Radnor, conhecido pela série “How I meet your mother” que nunca assisti, mas sei que tem uma legião de fãs. ‘Liberal Arts’ é sobre a vida de adulto e a saudade de ser jovem e sobretudo, ter que andar em frente! Bonito, sensível e nada clichê.

    • ‘Brittany Runs a Marathon‘ é aquele filme que você julga (mal) pelo cartaz, mas é uma bela surpresa. Sou daquelas que acorda bem cedo. Antes de iniciar minhas aulas remotas de yoga, tomo o café lendo ou assistindo a algum filme aleatório escolhido na hora. Isso em torno das 6h30 da manhã! Encontrei esse filme assim. Ele fala sobre mudanças, força de vontade e amizades. Muito mais bonito do que parece.

    • ‘Moxie‘ foi indicação de uma amiga. A mesma amiga que passou a adolescência e criou um zine comigo. E o filme trata disso: ser adolescente, feminista e idealista, porém nos dias de hoje e não nos meus anos 90. A trilha é uma volta à juventude pra quem é da geração das ‘riot girls’.

    • ‘Broken English‘ tem um casal vivido pela Parker Posey e Melvil Poupaud, o que já vale a pena assistir. Revi há pouco tempo e também achei melhor do que da primeira vez. É sobre uma jovem mulher e suas escolhas e transformações, depois de conhecer um jovem francês em Nova Iorque. Tem alguns problemas, mas continuo achando lindo.

    • Assistir a ‘Depois a louca sou eu‘ fez eu afirmar que a obra de Tati Bernardi é bem mais interessante que ouvir ela falar. Por vezes fico irritada com suas opiniões egocêntricas, preconceituosas e machistas proferidas sem autocensura em seu podcast. Mas quando suas vivências tornam-se base para roteiros de obras ficcionais, ficam bem mais interessantes. Esse filme é um deles. Com a boa interpretação de Débora Falabella.

    Aceito novas sugestões de alienação desse Brasiiiillll. Me manda? E me conta também o que achou dos filmes 🙂