Categoria: Livros

  • Para não deixar no esquecimento.

    Para não deixar no esquecimento.

    Comecei o ano relendo o diário de Anne Frank. Essa edição, editada pela própria Anne, leva o título “Querida Kitty“. Não é fácil reviver com ela esse período de esconderijo, que sabemos que vai terminar mal. Mas dessa vez, vi na adolescente de apenas 13 anos uma menina perspicaz, engraçada e com muita vontade de escrever. Só agora soube que ela tinha o intuito de mostrar seus escritos para o mundo. No tempo em que morou na “casa dos fundos”, não só escreveu seu diário, como o editou e registrou muitas outras coisas em cadernos e folhas soltas. Hoje estão todos na Fundação Anne Frank, criada por seu pai Otto Frank.

    Não é fácil relembrar tempos sombrios da humanidade. O holocausto foi um desses acontecimentos que não deixa a gente parar de se surpreender com a maldade humana.

    Coincidentemente, nessa primeira terça-feira do ano em que terminei essa leitura, tive a infelicidade de entrar em um sebo no centro de Florianópolis e me deparar com edições de Mein Kampf. Estavam dispostas propositalmente acima das prateleiras de livros, com as capas viradas para frente.

    A imagem me gritou aos olhos e me doeu no coração. Decidi não falar com o dono do estabelecimento por medo. Respirei fundo, saí e te peço: não entre, não compre e ignore o Sebo Império, na rua Hercílio Luz, em Florianópolis.

  • Español

    Español

    Recentemente, encontrei em casa livros na língua espanhola. Alguns ainda embalados no plástico, com preço anotado na capa. Vieram de viagens a países vizinhos e ficaram aguardando o momento de serem lidos.

    Resolvi começar por um Alejandro Zambra: “Formas de volver a casa”, ainda receosa por ter dificuldades na leitura. O que, ainda bem, não aconteceu.

    O título “Cosas que nunca te dije”, de María José Viera-Gallo, me remeteu ao filme homônimo da diretora Isabel Coixet. Assisti há muitos anos nas zapeadas sem compromisso de canais de filmes Showtime. Nunca mais o revi.

    O livro não tem nada a ver com a obra cinematográfica, foi só uma coincidência de nomes. São contos e está sendo minha última leitura desse dois mil e vinte um. Estou gostando muito!

    A coletânea de contos de autores colombianos, chamada “Puñalada Trapera“, foi encontrada numa livraria pequena e graciosa, a Santo & Seña, que fica no bairro de Chapinero, em Bogotá.

    Nesse lugar também se vendem LPs, fitas cassete e toca-discos e aparelhos de som retrô. Sem contar com as novas polaroids e seus filmes. Tudo tão lindo que fiquei horas passeando e saboreando o espaço,

    Já o livro do chileno Pedro Lemebel , “De perlas y cicatrices”, foi indicado por amigos também chilenos, ao passearmos em uma livraria no agradável bairro de Ñuñoa, em Santiago. Este ainda será lido.

    Nos últimos meses, a língua espanhola tem sido minha companheira. Tinha esquecido de como é bonita e fluida.

    Estudei espanhol na escola na época em que o idioma foi obrigatório por um programa do Mercosul. Éramos adolescentes, cheios de si, e achávamos que não nos serviria para nada. Só passei a dar valor à língua depois de adulta e de visitar países de língua espanhola. Comecei a notar as variedades de palavras de país para país e seus diferentes sotaques. Além das pessoas que conheci e que gosto muito.

    A leitura em espanhol que tenho feito hoje me fez relembrar dos mestres do passado. A professora chilena Alejandra foi a minha preferida. Depois ainda tivemos professores argentinos e até um brasileiro.

    As viagens, os lugares, as comidas, as pessoas. Todos esses sabores, cheiros e memórias têm me visitado através dessa língua, da qual eu fui ingrata por muito tempo.

  • Bordando as palavras

    Bordando as palavras

    Certa vez fui convidada para sair num livro chinês falando sobre meu trabalho na FofysFactory. Foi uma emoção ter participado da edição feita tão longe! Uma amiga achou o livro em uma livraria numa viagem à China!

    Em outro momento, fui convidada a ensinar um produto feito pela FofysFactory num livro americano de “faça você mesmo”. Nunca recebi a edição, e levei um susto quando achei sem querer na prateleira da Livraria Cultura, em São Paulo. E meu produto foi a capa!

    Mas essas histórias eu conto aqui outra hora. O livro da vez foi escrito pela Paula Gotelip e chama “Dançando com as palavras” onde ela relata sua própria infância, tendo dislexia.

    Fui convidada para fazer as ilustrações bordadas. Com o convite, veio também a amizade com essa equipe criativa, cada um com seu métier. Filipe Lampejo, designer de mão cheia, cuidou da cara do livro e colaborou com a ilustração também, com cores vibrantes Pantone. Nas mãos dele é que meus bordados ganharam vida e volume nas páginas impressas.

    A edição ficou por conta da Cia. Mafagafos, representada pela Aline Maciel.

    Foram muitas conversas e troca de ideias remotas (parte do grupo em Minas e outra parte aqui em Florianópolis) que o livro finalmente nasceu, com o empurrão do Edital da Fundação Franklin Cascaes.

    Foi todinho pensado nas pessoas disléxicas, para que a leitura seja confortável, clara e divertida. A história encoraja as crianças disléxicas a dançarem com as palavras! Vamos dançar?

    Assista ao vídeo de todo o processo aqui.

  • Mundo fantasma

    Mundo fantasma

    Daniel Clowes é um dos meus quadrinistas preferidos. Entre tipos esquisitos, pouco sociáveis e cheios de mania, a personagem que mais me identifiquei foi a Enid, do quadrinho Ghost World. Isso quando eu era mais nova, porém até hoje gosto da melancolia da história. Sou fã de carteirinha e tenho aqui em casa o quadrinho, o filme, a trilha e a boneca.

    Esses dias resolvi fazer o bordado da Enid do cinema, interpretado pela atriz Thora Birch e dirigido por Terry Zwigoff.

    Saiu assim:

    Nesse ano li o quadrinho Paciência, que já estava na minha lista de desejos faz tempo. Recomendo!

    Assim como todos os outros dele.

  • Genial

    Genial

    Minha porta de entrada para Elena Ferrante foi o livro “Dias de abandono”, emprestado pela minha sogra. Fiquei irritadíssima com a personagem, o que tempos depois me fez gostar do livro.

    Depois li mais três em épocas diferentes: A filha perdida, A vida mentirosa dos adultos e Uma noite na praia.

    Porém, só no final do ano passado embarquei na tão falada tetralogia da “Amiga Genial”, que a colocou em lugar de destaque na literatura contemporânea.

    Foram vários meses intercalando a série de livros com outras leituras.

    A escrita me fisgou na metade do primeiro livro, na minha opinião o mais fraco deles. Aos poucos, a história da amizade de Lenu e Lila e todas as nuances dessa relação vai se desenvolvendo e envolvendo o leitor, além de todo o pano de fundo histórico da Nápoles pós-guerra até os anos 2000.

    Além de ter uma escrita fluida e um tanto simples, é com maestria que a autora consegue dar detalhes da psicologia das personagens sem ser óbvia.

    Não tem como não nos enxergarmos um pouco, ora em uma, ora em outra, ao longo de toda a história.

    Quando terminei o quarto e último livro, já deu saudades de viver aquela vida imaginária que, certamente ficará na minha lembrança para sempre.

  • Sobre o luto

    Sobre o luto

    Quando nos deparamos com a situação inédita de pandemia em nossas vidas, entendemos também que a morte e o luto seriam questões presentes.

    Sentimos a perda de conhecidos, amados, famosos e da população de nosso país. Tudo ao mesmo tempo.

    Falar sobre o luto, senti-lo e dar as mãos para ele sempre foi necessário. Talvez, seja a hora de encará-lo de frente de uma vez por todas.

    Há dois dias, assisti ao filme Metalhead. A princípio, parece ser sobre uma menina que gosta de death metal, mas é bem mais que isso. É sobre como ela lidou com a perda do irmão na infância. Se passa na Islândia e mostra de forma muito sensível o papel da família e da comunidade ao seu redor em sua superação.

    Também li o último livreto ‘Notas sobre o luto‘ da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adiche. São relatos sinceros de como a autora lidou com o luto da perda do pai para Covid-19 no ano passado. O livro é profundamente verdadeiro, o que nos faz refletir sobre a perda de alguém que amamos e como isso é incontornável na vida.

    Não menos emocionante é essa conversa da psicanalista Maria Homem com o Paulo Werneck, no podcast da revista Quatro Cinco Um. Ela conta sobre a perda de seu companheiro, também psicanalista, Contardo Calligaris e como está passando por isso.

  • Para uma avenca partindo

    Para uma avenca partindo

    Não tenho tempo de vida para reler tudo o que gostaria. Então, quando alguém cita um autor, um texto já lido, aproveito para tratar de relê-lo na hora.

    Caio Fernando que tanto me acompanhou na juventude, precisa ser relido na idade adulta.

    Ontem busquei o conto “Para uma avenca partindo”, através de um texto do Suplemento Pernambuco. Agora o Caio fala pra outra pessoa. Fala para a Carol de quarenta e poucos. Mas relembro a Carol de outrora, que me deixa feliz e triste ao mesmo tempo.

    Releia seus preferidos!

    “Por favor, não ria dessa maneira nem fique consultando o relógio o tempo todo, não é preciso, deixa eu te dizer antes que o ônibus parta que você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente, você não cresceria se eu a mantivesse presa num pequeno vaso, eu compreendi a tempo que você precisava de muito espaço…”

    Este conto está no livro O ovo apunhalado, de Caio Fernando Abreu.

  • Ave, palavra

    Ave, palavra

    Se não fossem as palavras, ditas ou escritas, como seria a nossa vida?

    Eu amo conversar, ler, expor as minhas ideias e aprender novas.

    Somente no ano passado, o inesquecível 2020, fui ler “Grande Sertão: Veredas” de Guimarães Rosa.

    Essa última edição, lançada anos antes, já tinha me comovido pela capa bordada. Decidi que era uma ótima desculpa para comprá-lo e finalmente lê-lo.

    De início, a leitura não é fácil. Mas logo habitua-se ao linguajar e a viagem pelo sertão mineiro e pela vida interior do narrador nos fisga.

    Logo depois, me senti inspirada a bordar um Guimarães Rosa todo meu. Fui atrás das gravuras de Poty já conhecidas de outras edições e fiz minha versão na FofysFactory.

    O trabalho me rendeu muitas, mas muitas encomendas, que até hoje faço com muito amor.

    No final do ano, tive um pedido ainda diferente: seria um presente para o amigo da cliente com uma outra frase de Rosa, tirada do livro Ave, palavra.

    O mais bonito disso tudo é que, ao entregar a encomenda, eu recebi de presente o livro! Com uma capa linda, era a 2ª edição, de 1978 (ano em que nasci!), pela editora José Olympio.

    As histórias que meu trabalho me trazem são muitas e vou registrando aqui com palavras escritas. Ave, palavra!

  • “A cada mil lágrimas sai um milagre”

    “A cada mil lágrimas sai um milagre”

    Desde que li o quadrinho “Sem Dó“, da cartunista e ilustradora Luli Penna, passei a acompanhá-la pelo Instagram. Viramos “amigas de facebook” e a partir daí trocamos comentários, observações e dicas.

    Milágrimas, seu último lançamento, é uma história em quadrinho da poesia de Alice Ruiz que virou música nas vozes de Itamar Assumpção, Ná Ozzetti e Zélia Ducan, entre outros cantores.

    Alice conta que a escreveu depois de ver um comercial de tv: “a cada mil lágrimas sai um milagre”. Narra a passagem pela dor e sobre encarar sua própria tristeza.

    Quando entrei em contato com a Luli para comprar o livro, ela mesma sugeriu: vamos trocar? Assim, enviei o “60 dias dentro de casa”, que Ivan Jerônimo escreveu nos primeiro dois meses de pandemia. Mas esse assunto fica para outro post 🙂

  • Arquiteta

    Arquiteta

    Nas livrarias, adoro passear nas prateleiras da seção de livros infantis. Os livros são tão mais legais quando têm ilustrações!

    Procurando o presente para minha sobrinha, me deparei com este que conta a história da arquiteta Lina Bo Bardi, uma das minhas preferidas! Descobri que o livro foi escrito e ilustrado pela espanhola Ángela León, criadora do genial “Guia Fantástico de São Paulo“, que temos aqui em casa.

    As belas ilustrações nos levam para essa aventura que foi a vida de Lina. Desde sua vinda da Itália, ele narra em ordem cronológica sua passagem por São Paulo e Bahia, com o olhar sempre atento ao criar uma arquitetura popular, para ser realmente usada pelas pessoas. Seus projetos sempre foram criativos e divertidos, desde o desenho de móveis aos museus e parquinhos infantis.

    Confesso que ao voltar pra casa abri para ler antes de presentear! E, claro, já penso em ter um exemplar só pra mim! 🙂