“Tanto o sono como o tédio são estados de inatividade. O sono é o ponto alto do relaxamento do corpo, enquanto o tédio é o ponto alto do relaxamento espiritual”.
Assim escreveu Byung-Chul Han, em seu livro Vita contemplativa ou sobre a inatividade.
Há algum tempo tenho sido amiga do tédio.

Ele é o único elo entre o eu de hoje e o eu de quando ainda nem existia a internet.
Me lembro das horas da infância e juventude reclamando de não ter nada pra fazer. Esses momentos eram dádivas a que só dei valor mais tarde, ao passar horas diárias na frente de telas de variados tamanhos.
O que falta pra gente ser realmente feliz nos nossos tempos é um pouco de tédio, que eu associo com uma mente criativa. É preciso de um tempo para fermentar as ideias na cabeça e as informações interessantes que buscamos.
Não é preciso estar a par de tudo o que acontece com os nossos amigos (e inimigos) através das fotos e vídeos no Instagram. Essas informações irrelevantes “apodrecem” nosso cérebro. Não à toa o termo da vez é o brain rot.
Contra isso, tento catar os pequenos momentos de tédio. É um desafio diário, para o cérebro, estar numa fila sem olhar o celular, esperar um atendimento sem olhar o celular, esperar qualquer coisa SEM OLHAR A DROGA DO CELULAR.
Como dizia um cartaz da ilustradora Nastya Varlamova que vi numa exposição em Portugal: “Stop scrolling! Real life is calling”.

.
Dicas de leitura
• Certa vez, na livraria, me chamou a atenção o título do livro infantil “Tédio das tardes sem fim“, de Gaël Faye e Hippolyte. Beleza no texto e nas ilustrações.
• “Vita contemplativa ou sobre a inatividade“, de Byung-Chul Han. Sobre buscar de volta a nossa capacidade de não fazer nada.

Deixe um comentário