Recomeço

Sempre vivi com o estigma de ser uma virginiana. Nasci em setembro por acaso ou por culpa dos meus pais e assim os astros me definiram. As pessoas esperam que eu seja organizada, disciplinada, metódica e uma líder. Mas a verdade é que sou acumuladora, apegada, crítica e mandona.

Pode parecer que o rolê do sol em virgem é fazer uma limpa nos armários todo novo ano, mas confesso que tenho fugido disso há muito tempo.

Ontem, depois de uma prática de yoga intuitiva e solitária, veio uma vontade de finalmente encarar meus defeitos: armários cheios de coisas inúteis acumuladas nos últimos dez anos, tempo que moro nesse apartamento. Foi também a minha maneira esperta de deixar de lado as timelines intermináveis dos aplicativos do celular.

Comecei com as roupas de cama, cobertores e sapatos. Empolgada, fui para os acessórios e chapéus. Os sacos azuis de lixo foram se multiplicando. A sensação era de alegria e leveza.

Não contente, parti para o escritório. Em outros tempos, desfazer de livros seria doloroso. Agora só sentia mais e mais vontade de esvaziar as prateleiras e dar lugar para novas leituras.

Toda caixinha, porta-lápis e vidrinho que estavam na mesa se abriram como portais para o universo das pequenas coisinhas que não sabemos de onde vieram e pra onde vão. Chip de celular antigo, controle remoto estragado do portão da garagem, centavos de moeda de outro país, foram algumas delas a passarem na triagem da vida.

Mas lá estava eu, imbatível: joguei fora, doei, lavei, arrumei, organizei.

Estou longe de ser uma discípula Marie Kondo, mas hei de concordar que tudo isso deixa a gente cheia de energia para mais um recomeço. Enfim, feliz ano novo!

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