Quando jovem, a gente se dizia feminista, mas na verdade não sabia quase nada sobre o feminismo. Não tinha a discussão e literatura que temos hoje. Talvez por isso, muito machismo que sofri na vida só identifiquei depois de adulta.
Tive um amigo muito próximo. A gente fazia trabalho junto, criava junto. Ele era bastante criativo. E sempre deixei claro o quanto gostava do trabalho dele. Enquanto fazíamos as coisas juntos, estava tudo bem. Mas quando era trabalho individual e eu me dava bem, nunca recebi um elogio. E eu não ficava triste por isso, eu me sentia mal por ele não ter se dado tão bem. Assim se passaram alguns anos e ele sempre me colocou pra baixo. Mas, ao mesmo tempo, todo mundo sabia o quanto éramos amigos. Depois que eu encontrei outra turma, quando já estava adulta e dei um fim radical para algumas amizades anteriores, fui muito julgada. Inclusive por mim mesma.
Apenas anos mais tarde entendi que só estava querendo ser feliz e querendo ter relações que me fizessem bem.
Fui cobrada de várias maneiras por aquela amizade, mas também nunca contei o que sentia aqui dentro. Eu não sabia nomear. Eu não tinha a capacidade de contar. Só hoje sei.
Hoje também vejo como eu fui cruel comigo várias vezes na vida, achando que estava sendo má com algumas pessoas, mas na verdade só estava querendo me proteger do machismo.
É triste e, por vezes engraçado, ver que muito homem continua assim. Se sentem confortáveis nesse mundo, confiantes nesse seu lugar de privilégio.
Muitos avaliam algo sobre mim, como se eu precisasse de aprovação. Outros sabem que eu entendo de algo que ele não entendem, mas se sentem confiantes em falar sobre aquilo de igual pra igual. Vêm me explicar coisas que eu fico até com vergonha alheia.
Nas redes sociais, é comum eles curtirem fotos em que eu apareço, mas nunca do meu trabalho. Não imaginam o tanto que isso é frustrante. Não que precise de aprovação masculina para viver e criar, mas na vida, vez ou outra, são eles que são eles que vão dar a cartada final num emprego ou fazer parte de um júri, por exemplo. Ou seja, nós mulheres ficamos em desvantagem sim.
Nunca falei sobre isso assim abertamente, mas é preciso falar. Hoje faço um exercício comigo mesma de sempre ouvir a mulher antes, de enaltecer o trabalho delas, quando puder, ajudá-las. Não é fácil, mas é preciso.
Lembrando que falo tudo isso a partir do meu lugar de mulher branca. Não sou ingênua e conheço a situação bem mais difícil de outras mulheres. E, para essas, dou ainda mais prioridade em escutar.

Três filmes que adoro sobre amizade feminina e dirigidos por mulheres:
• Uma canta, a outra não, de Agnès Varda.
• Garotas, de Céline Sciamma (minha cena favorita: https://www.youtube.com/watch?v=sH8hAdyKbgw).
• Skate kitchen, de Crystal Moselle (que deu origem à serie Betty, que também amo!).

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