Registros de uma cidade

Criamos coragem, colocamos as máscaras PFF2, nos munimos de papel e caneta e fomos desenhar “in loco” para o encontro dos Urban Sketchers desse último sábado.

Escolhemos essa casa quando soubemos que seria demolida. A escola de dança de uma amiga teve que sair do imóvel para anunciar mais uma notícia triste para o centro de Florianópolis. É um canto tranquilo no miolo da cidade. Fica em uma ruelinha que outrora não tinha nem saída para a Avenida Gama D’Eça. Hoje desemboca numa curva onde se avista uma figueira centenária com raízes vastas e firmes, sob uma sombra deliciosa. Ali mesmo eu e Ivan colocamos nossos banquinhos para desenhar.

Desenhar em casa através do Google Street View já estava se tornando enfadonho. A perspectiva enganosa de uma foto não tem a menor graça. E essa tarde foi particularmente prazerosa por estarmos lá.

Registrar o momento da cidade através da sua arquitetura me fez refletir sobre todas as paisagens que já se foram. Me dói profundamente quando recordo do desaparecimento do predinho Mussi, meu preferido de todos. Sua demolição foi criminosamente feita num domingo. Uma perda irreparável para a memória urbana de Florianópolis.

Desde meus anos de estudante de arquitetura na Universidade Federal de Santa Catarina, não vejo uma vontade pública ativa para a preservação do patrimônio histórico. A cidade continua se transformando rapidamente. E para pior!

Comentários

  1. Avatar de Bruna Roisenberg
    Bruna Roisenberg

    Querida Carol,

    Eu vim te contar que eu fiquei muito emocionada com o teu desenho e o do Ivan.

    Eu fiz ballet durante 13 anos, primeiro na Albertina Ganzo, que ficava em um prédio na Rio Branco. Anos depois, com o falecimento da Albertina, a escola virou Arte.Dança, e ficava nessa casa linda, tão maravilhosamente ilustrada por vocês.

    Eu fiquei de coração partido ao saber que essa casa seria demolida, afinal, ela abrigou muitas das minhas melhores memórias da infância e adolescência. Mas, ver a casa assim, registrada por vocês, me deu um quentinho no coração. Como se a memória pudesse ficar bem guardada através da arte.

    Concordo contigo. É muito triste que a cidade não preserve sua arquitetura. É como se ela não preservasse sua própria história. E uma cidade sem história… nem sei o que é…

    Enfim, te agradeço de todo o coração por esse registro. Agradeça ao Ivan também.

    Envio todo o meu carinho e o meu melhor abraço de admiração por vocês.

    Bruna Berger Roisenberg Psicóloga – CRP-12/15062 Mestre em Saúde Mental e Atenção Psicossocial – UFSC (48) 99104-7092 @psicologabrunabr http://brunapc.wixsite.com/psicologabruna

    1. Avatar de carolgrilo

      Que legal, Bruna! Mostrei pro Ivan também! 🙂
      O melhor de resgatar essas memórias é que todo mundo acrescenta alguma vivência no lugar. No twitter fez sucesso eu relembrar esse canto da cidade e muita gente veio falar comigo. Obrigada por compartilhar a sua história também!

    2. Avatar de ivanjeronimo

      Oi, Bruna!
      Fico muito contente que esses nossos modestos registros tragam tantas lembranças.

      A falta de planejamento urbanos e de uma política de patrimônio histórico decente nessa nossa cidade não são lacunas, são estratégias de políticos financiados pelas construtoras. E com esses marcos urbanos, vão-se embora nossas lembranças. E também a possibilidade de levar a vida com um contato mais saudável com a cidade.

  2. […] da pandemia, em que os participantes desenham usando o Google Street View como referência. Mas Carol Grilo e eu apostamos que no sábado à tarde o lugar estaria […]

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