O post da tia lembrou: faz 28 anos sem você.
Vinte-e-oito. Pra mim foi ontem.
A primeira coisa que lembro é da sua casa no alto da cidade, toda arrumadinha, com cristaleira antiga e cortina de crochê. Como você era prendado! Guardo até hoje a caixinha com laço de durepox que fez pra mim e dentro, o último cartão de aniversário, no meu nove-do-nove, com uma colagem. Jamais imaginaria que eu viria a fazer colagens também. Aliás, quando comecei as minhas criações sempre pensava que iria gostar. Acho que foram os únicos momentos que me fizeram querer acreditar que as almas nos rodeiam aqui na Terra porque, na verdade, eu só queria te mostrar o que eu estava fazendo.
Vinte-e-oito! De lá prá cá quanta coisa mudou!
Já existe remédio fornecido de graça pelo SUS, já existe tratamento, uma vida normal mesmo com o vírus. Existe até profilaxiapréexposição. Se fosse alguns anos depois. Sempre penso nisso.
Penso também quem seria você hoje. Será que teria sido você a primeira pessoa a cortar meus cabelos curtos? Será que estaria sofrendo com esse governo? Será que trocaríamos ideias de leitura? Será que te idealizei?
Vinte-e-oito e e eu já tenho quase quarenta-e-três.
Se eu pudesse voltar no tempo, eu teria lido pra você sobre os girassóis que Caio Fernando veio a escrever dois anos depois de mil-novecentos-e-noventa-e-três.
Se eu pudesse voltar no tempo, não teria te feito trotes ao telefone e teria tomado um sunday com você naquele ‘café do ponto’ no predinho do salão.
Hoje sou saudades.
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