Autor: Carol Grilo

  • Cassete

    Cassete

    Minha adolescência foi nos anos noventa. Recordo com especial carinho o ano de 1993, época em que escutava Ramones sem parar, assistia à MTV o dia inteiro e tinha um grupo de amigas queridas.

    Escutávamos música nas nossas fitas cassetes enquanto os primeiros CDs começavam a aparecer. Com eles, surgiram também as locadoras de CDs onde passávamos as tardes escolhendo o que alugar. Se alguém comprava o álbum do momento, era praticamente obrigado a gravar para os amigos. As capinhas eram caprichosamente escritas a mão, imitando o logotipo da banda com as cores principais da capa do disco.

    As fitas iam e vinham. Às vezes, de mais longe: como presentes de amigos enviados pelos Correios ou a demo daquela banda independente de outro estado.

    Ainda tenho todas aqui. Em cada caixinha, músicas que guardam lembranças de um momento vivido.

  • Achados

    Achados

    Estava remexendo em fotos antigas escaneadas pelo meu irmão e achei mais fotos do meu tio Nestor. Eu nem tinha nascido ainda e ele estava casado com a Ester. E eram todos jovens <3

    Achei tão lindas que resolvi colocar aqui.

    Minha mãe Gabriela, meu irmão Mateus, tio Nestor e Ester.
  • Minha tia-avó

    Minha tia-avó

    A categoria tia-avó não é muito enaltecida. Sempre ficou esquecida entre uma tia descolada e uma avó que faz as nossas vontades.

    Mas eu tinha minha tia Maria. Tia-avó, irmã do vô Grillo.

    Tia Maria morou no Rio de Janeiro e tinha todos os trejeitos de madame carioca, o que me fascinava.

    Ela me presenteava com frequência com bolsinhas de crochê feitas por ela mesma. Cada uma em um modelo diferente e sempre com um brochinho pregado. O de coelhinho tenho guardado até hoje.

    Foi também a tia Maria que fazia o famoso mingau de chocolate quando íamos visitá-la. Um verdadeiro “comfort food” que resgatei nos primeiros dias de isolamento da pandemia.

    Lembro também de uma casa em que ela morou, já de volta à Minas. Um longo corredor na entrada, samambaias e piso de caquinho de azulejo.

    Tia Maria já foi embora faz tempo, mas entre as oscilações da minha mente, a memória dela voltou vívida no dia de hoje. Uma memória boa, com cheiro do mingau.

    *Tia Maria está à esquerda na foto.

  • O desenho da letra

    O desenho da letra

    Sempre gostei de escrever. Escrever a mão, sem crase.

    Gosto é de desenhar as palavras. Sempre cultivei o que eu achava uma letra bonita. E sempre reparei na letras dos outros. E reparo até hoje.

    Desde muito jovem, quando conhecia uma letra bonita, logo adicionava algo dessa letra na minha também.

    Ao trocar de ano na escola, gostava de mudar de letra, como quem cria uma nova coleção de moda na próxima estação. E eu definia isso.

    Certa vez, o menino que eu gostava me escreveu uma carta. E que letra linda! Logo a minha ficou parecida com a dele.

    Fui assim até ficar adulta.

    Agora sinto que minha letra só muda pela falta de uso ou pela pressa ao escrever.

    Mas confirmo aqui: minha volta aos cadernos agora é definitiva.

    Voltei a escrever a mão, sem crase.

  • Para uma avenca partindo

    Para uma avenca partindo

    Não tenho tempo de vida para reler tudo o que gostaria. Então, quando alguém cita um autor, um texto já lido, aproveito para tratar de relê-lo na hora.

    Caio Fernando que tanto me acompanhou na juventude, precisa ser relido na idade adulta.

    Ontem busquei o conto “Para uma avenca partindo”, através de um texto do Suplemento Pernambuco. Agora o Caio fala pra outra pessoa. Fala para a Carol de quarenta e poucos. Mas relembro a Carol de outrora, que me deixa feliz e triste ao mesmo tempo.

    Releia seus preferidos!

    “Por favor, não ria dessa maneira nem fique consultando o relógio o tempo todo, não é preciso, deixa eu te dizer antes que o ônibus parta que você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente, você não cresceria se eu a mantivesse presa num pequeno vaso, eu compreendi a tempo que você precisava de muito espaço…”

    Este conto está no livro O ovo apunhalado, de Caio Fernando Abreu.

  • ET phone, home

    ET phone, home

    Tive alguns traumas na vida que foram culpa do meu pai.

    Calma, já vou explicar melhor.

    Meu pai, cinéfilo, de uma família de cinéfilos, acabou por se tornar um senhor que gosta de cinemão.

    Mas eu gosto de cinema por causa dele. Gosto que foi reforçado pelo Ivan, meu companheiro de aventuras. Nosso primeiro encontro foi num cinema, mas outra hora eu conto.

    Em 1981, eu tinha apenas três aninhos. Meu pai teve a incrível ideia de me levar ao cinema para ver ET – O extraterrestre. Na época, foi sensação. Lançaram miniatura do ET, bonequinho que acendia o peito e o dedo, as bicicletas do filme. Eu só colecionei pavor!

    Até hoje morro de medo d’O ET. Veja bem, não é de qualquer ser vindo do espaço. É dele. Aquele nanico marrom que ficava branco ao adoecer. Que comia rastros de bala confetti. Que tinha dedo comprido. Que se escondia entre os bonecos de pelúcia. E era botânico.

    Desconheço ter revisto o filme, mas os detalhes estão vívidos em minha mente. Assim como a trilha sonora, que meu pai insistia em ouvir.

    Não me assusto com filme de terror. Aliás, não acho a menor graça. Enquanto Ivan fica com a mão suando frio, eu sempre estou indiferente ou achando problemas no roteiro. Mas é só me mostrar o ET ou contar histórias com disco voadores que já tremo nas bases.

    Anos depois desse episódio, ainda criança, meu pai me fez assistir a “Contatos imediatos de terceiro grau”. A música do filme virou jingle da TV Manchete, para piorar minha qualidade de vida.

    Eu cresci, aprendi a conviver com bonecos do ET na casa de amigos, com imagens dele ao virar a página de uma revista ou assistindo à tv. Mas sempre levando um sustinho.

    Conclusão? Nem sempre a culpa é da mãe.

  • Registros de uma cidade

    Registros de uma cidade

    Criamos coragem, colocamos as máscaras PFF2, nos munimos de papel e caneta e fomos desenhar “in loco” para o encontro dos Urban Sketchers desse último sábado.

    Escolhemos essa casa quando soubemos que seria demolida. A escola de dança de uma amiga teve que sair do imóvel para anunciar mais uma notícia triste para o centro de Florianópolis. É um canto tranquilo no miolo da cidade. Fica em uma ruelinha que outrora não tinha nem saída para a Avenida Gama D’Eça. Hoje desemboca numa curva onde se avista uma figueira centenária com raízes vastas e firmes, sob uma sombra deliciosa. Ali mesmo eu e Ivan colocamos nossos banquinhos para desenhar.

    Desenhar em casa através do Google Street View já estava se tornando enfadonho. A perspectiva enganosa de uma foto não tem a menor graça. E essa tarde foi particularmente prazerosa por estarmos lá.

    Registrar o momento da cidade através da sua arquitetura me fez refletir sobre todas as paisagens que já se foram. Me dói profundamente quando recordo do desaparecimento do predinho Mussi, meu preferido de todos. Sua demolição foi criminosamente feita num domingo. Uma perda irreparável para a memória urbana de Florianópolis.

    Desde meus anos de estudante de arquitetura na Universidade Federal de Santa Catarina, não vejo uma vontade pública ativa para a preservação do patrimônio histórico. A cidade continua se transformando rapidamente. E para pior!

  • Ave, palavra

    Ave, palavra

    Se não fossem as palavras, ditas ou escritas, como seria a nossa vida?

    Eu amo conversar, ler, expor as minhas ideias e aprender novas.

    Somente no ano passado, o inesquecível 2020, fui ler “Grande Sertão: Veredas” de Guimarães Rosa.

    Essa última edição, lançada anos antes, já tinha me comovido pela capa bordada. Decidi que era uma ótima desculpa para comprá-lo e finalmente lê-lo.

    De início, a leitura não é fácil. Mas logo habitua-se ao linguajar e a viagem pelo sertão mineiro e pela vida interior do narrador nos fisga.

    Logo depois, me senti inspirada a bordar um Guimarães Rosa todo meu. Fui atrás das gravuras de Poty já conhecidas de outras edições e fiz minha versão na FofysFactory.

    O trabalho me rendeu muitas, mas muitas encomendas, que até hoje faço com muito amor.

    No final do ano, tive um pedido ainda diferente: seria um presente para o amigo da cliente com uma outra frase de Rosa, tirada do livro Ave, palavra.

    O mais bonito disso tudo é que, ao entregar a encomenda, eu recebi de presente o livro! Com uma capa linda, era a 2ª edição, de 1978 (ano em que nasci!), pela editora José Olympio.

    As histórias que meu trabalho me trazem são muitas e vou registrando aqui com palavras escritas. Ave, palavra!

  • A história de quem foge e quem fica

    A história de quem foge e quem fica

    A pandemia deu uma desorganizada geral nas amizades, não acha? Parece que colocou tudo dentro de um copinho e jogou, feito dados, para decidir quem vai e quem fica.

    Foi uma dança das cadeiras. Aquela pessoa que estava ali, mas não falava muito, talvez tenha sido a que mais te fez companhia. Mesmo que virtualmente. A outra, empolgadíssima com você outrora, te baniu das redes sem nem dar satisfações. Evaporou-se!

    Pouquíssimos foram aqueles que estiveram presencialmente.

    Mas, te digo, esses que caminham junto comigo por mais de um ano, me fazem muito bem!

  • Lado A

    Lado A

    Encontrei o podcast do André Forastieri, André Barcinsky e Álvaro Pereira Junior. Machistas? sempre. Mas falam de música. E das que gostam, entendem muito.

    O ótimo episódio relembrando os 20 anos de morte de Joey Ramone, teve como convidado o João Gordo. E esse cara tem vários causos pra contar que renderia um livro.

    Ramones é a melhor bandas de todos os tempos. Fiquei feliz de relembrar algumas músicas nunca mais escutadas e rememorar parte da minha vida.

    Há poucos meses, resgatei dois discos que estavam na casa dos meus pais, o que me deu uma vontade grande de comprar um toca-discos (que ainda estou procurando) e escutá-los com os estalinhos do vinil para matar as saudades de um outro tempo.

    Meu lado A é Ramones.