Em alguns de meus trabalhos abordo o tema silêncio.
Ora sou silenciada como mulher.
Ora procuro o meu próprio silêncio.
E foi desse silêncio, o que mais me interessa, que fui atrás no carnaval.
Refugiei-me por alguns dias na casa de amigos nas montanhas.
Foi lá que pisei na grama, nadei no açude, fiz as refeições mais deliciosas numa mesa cercada de araucárias. Foi lá que vi o tempo passar devagar, observei a brisa balançando a cortina na janela e observei a lua nova no céu já quase de noite. Foi lá também que convivi com três éguas e dois pôneis queridos: a Jasmine e o pequeno Pixel.
Do amanhecer ao anoitecer, lá fora era silêncio.
Dentro de casa, conversas boas e tempo para colocar o pensamento em ordem.
Sempre brinco que trocaria facilmente a invenção da internet pelos anos de Mtv.
A emissora faz parte da minha juventude e de tudo que me formou musicalmente.
Lembro das férias escolares em que passava horas acordada madrugada adentro para conseguir assistir aos melhores videoclipes.
Durante as aulas, aproveitava o intervalo entre o almoço e a volta para o colégio, para conseguir ver CEP MTV com o Thunderbird de apresentador.
Conhecia bandas através de Fábio Massari nos programas Lado B e Manifesto.
Gravava clipes em fitas VHS, o que resultou numa grande coleção, descartada muitos anos depois.
Naquela época eu era adolescente, e todo mundo queria ser VJ ou ter ganhado a promoção para viajar até Seattle com o Gastão Moreira.
Nos idos de 1993, o assunto só era esse: bandas, o álbum que acabou de sair, o filme que estreou no cinema. Ficávamos informados através da emissora.
Nos anos 2000, ao meu ver, a MTV degringolou de vez. Os programas de auditórios e reality shows foram a maneira de aumentar a audiência, mas me fizeram perder o interesse pelo canal.
Anos mais tarde, a falência da editora Abril, dona da MTV Brasil, decretou enfim a sua morte.
Soube que o acervo ficou abandonado por anos no saudoso prédio da avenida Alfonso Bovero.
Até que Gastão Moreira, em seu canal Kazagastão, descobriu que o acervo está guardado e muito bem cuidado.
Aliás, vale muito a pena assistir à série de vídeos que o Gastão tem feito, principalmente para quem viveu aquela época.
Esses vídeos são a única comprovação que a minha adolescência, sem a internet, foi muito legal 🙂
Trabalho com colagem há algum tempo. Se for contar a época em que recortava, colava e montava universos criados em capas de cadernos e páginas de agenda, faz mais tempo ainda.
Comecei a levar essa técnica para meu processo criativo quando fiz algumas oficinas com a colagista Pati Peccin, também aqui de Florianópolis.
Meu último trabalho com colagem partiu de um exercício em que brinquei com a ligação entre letras (a fonte escolhida foi Helvetica) e dei formas inusitadas e ilegíveis a elas.
Essas “palavras-figuras” foram coladas em folhas caídas de árvores em parques, praças e canteiros e redistribuídas nos mesmo locais, a fim de que alguém as achasse por aí.
Continuei essa investigação e criei uma pequena publicação manual e caseira, utilizando o formato de encadernação concertina (uma espécie de sanfona ao abrir), onde, mais uma vez, essas “palavras” tornaram-se a ilustração do livreto, juntamente com outras imagens.
A partir daí, criei a série de colagens Indecifráveis. São imagens fortes buscadas no fotojornalismo, acompanhadas de padrões criados com a junção dessas letras. Essa série é composta de três colagens principais.
A novidade é que elas farão parte de uma publicação coletiva, resultado dos trabalhos desenvolvidos com o grupo Impossibilidade do esgotamento. Será lançado em abril deste ano.
Certa vez, fui convidada para sair num livro chinês falando sobre meu trabalho na FofysFactory. Foi uma emoção ter participado da edição feita pela escritora Affa, de tão longe. Uma amiga achou o livro sem querer ao entrar numa livraria na China e fotografou pra mim, antes mesmo de eu ter recebido a minha edição.
Em outro momento, fui convidada a ensinar um produto feito pela FofysFactory num livro americano da escritora Kristen Rask de “faça você mesmo” (do it yourself). Nunca recebi a edição. Passaram anos até o dia que levei um susto ao avistar, sem querer, o livro na prateleira da extinta da Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo. E a melhor notícia: meu produtoestava na capa!
Em plena pandemia, surgiu o convite para ilustrar com bordados o livro escrito pela mineira Paula Gotelip, que se chama “Dançando com as palavras”. É um livro infantil onde ela relata sua própria vivência tendo dislexia.
Com o convite, veio também a amizade com a equipe criativa. Filipe Lampejo, designer de mão cheia lá de Belo Horizonte, cuidou da cara do livro e colaborou com a ilustração também. Nas mãos dele é que meus bordados ganharam vida e volume nas páginas impressas.
A edição ficou por conta da Cia. Mafagafos, representada pela Aline Maciel, aqui de Florianópolis.
Foram muitas conversas e trocas de ideias remotas (parte do grupo em Minas e outra parte aqui em Florianópolis) até que o livro finalmente nasceu, com o empurrão do Edital da Fundação Franklin Cascaes.
Todo o design foi pensado na acessibilidade das pessoas com dislexia, para que a leitura seja confortável, clara e divertida. A história encoraja as crianças disléxicas a dançarem com as palavras!
Vamos dançar? Assista ao vídeo de todo o processo aqui.
Sempre falo o quanto é importante separar um tempo na rotina para se dedicar à criação e para aprender algo novo. Enquanto bordamos é também um momento de reflexão e de colocar os pensamentos em ordem, além de ficarmos longe das telas. Esse é um espaço reservado no dia para a troca de ideias com os outros alunos.
Comecei minha carreira de professora com duas oficinas de bordado contemporâneo no extinto Coffee & Shop 18, no Itacorubi.
Depois, passei por um longo período e formei dezenas de turmas no espaço da Faferia, no centro, administrado pelo Fifo Lima.
De lá pra cá, fui convidada para dar aulas em diversos espaços: Eventos corporativos no Costão do Santinho e Il Campanario, Colégio de Aplicação da UFSC, Fundação Hassis, IFSC de São José, entre outros.
Mas foi a partir de 2019 que me dediquei às turmas contínuas. Alunos que nada bordavam começaram a criar utilizando as diversas técnicas que ensino nessas aulas. Tenho alunas que estão comigo há 8 anos e o progresso delas é visível e me deixa muito feliz.
No último ano, levei minhas aulas para o Ateliê Alvéolo, que fica no bairro Pantanal, aqui em Florianópolis. O Ateliê acabou de completar 10 anos e é administrado pela artista aquarelista Zulma Borges.
A novidade é que a partir de março começo a terceira turma lá. Será no período da manhã, atendendo aos pedidos.
Acontecerá todas as sextas, das 9h às 11h e a mensalidade é R$ 220.
Ainda temos vagas!
Temos vagas também na turma vespertina das quintas, das 14h às 16h.
Lembrando que oriento cada aluno individualmente, ou seja, você pode nunca ter bordado ou já saber bordar. É um espaço para desenvolver ainda mais sua habilidade com agulha e linha e ter novas referências na utilização do bordado na arte contemporânea. Venha!
Aulas de Bordado Contemporâneo com Carol Grilo
Turma Nova
Todas as sextas-feiras, das 9h às 11h.
Mensalidade R$ 220
No Ateliê Alvéolo, Rua Maria Eduarda, 80 – Bairro do Pantanal, Florianópolis.
Ao entrar no espaço expositivo, já avistei pessoas conhecidas.
Estava curiosa para saber como ficou a montagem da exposição Arte: substantivo feminino. Dias antes, fui avisada pela amiga Juliana de que o museu havia aberto as inscrições para essa exposição. É a primeira vez que a instituição faz uma chamada pública, só para artistas mulheres de todo o Brasil, em lembrança ao dia internacional da mulher (8 de março).
Não hesitei em enviar minha obra Etéreo Onírico, que produzi em 2024.
Poucos dias depois de submetê-la, recebi a boa notícia de que eu estava entre as 48 artistas selecionadas.
A noite de abertura foi agitada, cheia de visitantes amigos, comentários generosos sobre a minha obra e muita conversa.
Foi muito bom ver todos os trabalhos juntos, conhecer algumas artistas e rever outras. A escolha da curadoria em agrupar obras afins deu consistência ao percurso de visitação.
As participantes usam diversas técnicas, como fotografia, audiovisual, colagem, pintura, gravura e escultura.
A curadoria da exposição é de Simone Rolim de Moura, Ticiane Marassi, Mara Vasconcelos e Rita Coitinho.
A montagem e iluminação foi feita por Flávio Brunetto.
Visitação: até 18 de março de 2025, de terça a sexta-feira, das 10h às 18h, e sábado das 10h às 15h (exceto feriados).
Museu Victor Meirelles Rua Victor Meirelles, 59, Centro · Florianópolis, SC. (Entrada pela porta lateral na Rua Saldanha Marinho). Informações: mvm@museus.gov.br
Da dica de uma amiga ao envio da obra, foram apenas alguns dias até saber que fui selecionada entre 106 artistas do Brasil todo.
Fiquei contente em saber que minha obra “Etéreo Onírico” havia sido escolhida para integrar a exposição Arte: substantivo feminino, no Museu Victor Meirelles, aqui em Florianópolis.
A exposição que é composta apenas por artistas mulheres, segue até o dia 18 de março.
A abertura acontece na próxima quarta, dia 19 de fevereiro, às 19h.